Eu estou farta. Apenas farta. Farta de gritar contra paredes invisiveis, farta de derramar lágrimas por algo que nao posso mudar.
Há 17 anos que luto contra a vontade de...
contra a vontade de acabar com tudo.
Contra a vontade de acabar comigo.
Eu já não aguento mais.
Já não consigo.
Há 17 anos que eu finjo que está tudo bem, quando, na verdade, nunca esteve. Todos os dias olho ao espelho e repito para mim mesma
"É só mais um dia, tu consegues. Vá, vai à luta, mantém a cabeça erguida. Um dia serás recompensada".
Mas eu estou farta de esperar.
Eu já não aguento mais.
Eu sinto-me explodir a qualquer momento e odeio isso. Odeio a sensação que isso traz.
Tudo o que eu sempre pedi foi ser feliz e nunca mo concederam.
Nem sequer por um segundo.
Eu só sei que devo ser perfeita, matura e obediente.
Todos os dias.
Sempre.
Sem parar.
Mas eu, hoje, atingi o meu limite.
Que mal terei eu feito para me ser destinado tal infortúnio?
Eu tentei, juro que tentei manter um sorriso no rosto, quando me diziam que lamentavam.
E eu até fui bem sucedida. No entanto, não consegui conter as lágrimas quando me me lançavam dores.
Mais uma vez.
Outra vez.
Eu já não sei como lidar com isto, como lidar comigo, como lidar com tudo.
Eu só quero, nem que seja por um milésimo de segundo, sentir esperança. Esperança num futuro, num sorriso, no alivio.
Entretanto, que faço eu?
Choro.
Choro.
Choro e nao consigo parar.
Eu não quero parar. Não quero que me digam o que devo fazer ou o que devo dizer. Eu quero sentir-me livre.
Eu quero fazer uma loucura e sentir algo para além desta mágoa.
Será que é pedir muito?
A minha almofada tem que deixar de ser a minha confidente; a minha expressão tem que deixar de ser uma farsa; o meu olhar tem de deixar de ser um inferno.
Eu quero ter alguém que me ajude, que me aconselhe. Alguém que não me julgue, que não me condene.Alguém que me aceite por eu ser quem sou.
Eu já não aguento mais.
Foram 17 anos...
Melhor, são 17 anos.
17 anos a sentir me uma intrusa. 17 anos a sentir-me uma inútil. 17 anos a sentir que se eu morresse, nada se perderia.
São 17 anos a sentir que nunca mais chega o último dia.