30 de outubro de 2012

Darkness #1

O tempo é ingrato, infiel, dececionante. Apesar de ser o alento do progresso, significa ninharias perante a unidade do destino. É a maior prova de que nada desaparece, nada se apaga. O passado persegue-nos até à morte, soltando gargalhadas de escárnio. Arrepiantes, gritantes, atemorizantes. Afirmação tal e sombria pode afigurar-se cruelmente dissimulada, porém não padece de explicação. Apenas sobrevive, corrói, assombra. Perpetuamente.
As desconhecidas linhas de nosso futuro são desenhadas, expressamente, exclusivamente, por íntimos desejosos demónios pessoais. Estas negras criaturas emergem por entre os cortes de Humanidade e, sem suado pingo de arrependimento, ocupam celestial trono em meu súbdito ser.
Inesperadamente, silêncio.
 O tão atrativo vazio emocional impera. Dor do que fomos transfigura-se em prazerosa ardente, forçando o temeroso presente a transbordar mares de águas interditas e sensuais. Saudade de memórias dissolvidas em lágrimas de sangue enleia-se em meu redor.
Enfraquece-me.
Chicoteia-me.
E, pálida de cobardia e olhar perdido em brumas de aversão existencial, rendo o último fragmento que ainda me mostra lealdade. A paz, herdada por juras de fim e firmeza, seduz meus originais pecados. Uma vaga de luxúria escaldante, loucura e opressão delirante, beija a vénia consumada por mim.
Nada realmente muda, nada realmente se evapora. Não existe muro nem pedestal que separe o dantes do agora. Vida são meras trevas por paraíso intercalado; esperança é mera aspiração de liberdade de um futuro sem passado.