22 de setembro de 2013

-.-'

Basicamente...

E o pior é que nao a estou a encontrar...

5 de setembro de 2013

Untold #3

- Olha para ti, já viste bem a figura em que estás?
Claro que já vi...Não que tenha prazer algum em tarefa tal, mas, infelizmente, sou obrigada a encarar-me todos os dias na superfície espelhada que se encontra em frente à minha cama.
-Sim..que mal tem?
Mal pronunciei tais palavras, percebi que tinha ultrapassado o limite imaginário que se impunha sempre que havia comunicação de qualquer tipo entre mim e o meu progenitor.
- Como é que atreves a fazer tal afirmação?? Que mal tem? Pareces uma mendiga, sempre de casacos e lenços atrás..constantemente de cabeça baixa como se fosses uma pecadora em rendição..Já para não falar desse teu cabelo asqueroso que te engole...Tenho vergonha em chamar-te de minha filha...
-Então não chames! Se sou assim algo que te enoje tanto, nem sequer me olhes...

E foi este olhar..aquele olhar tão já meu conhecido que me gelou. 
Profundamente.
Senti as minhas células a contestarem o frio invasor, mas nada pude fazer. Nada consegui fazer. Apenas me ofereci, clemente, às mãos do autoproclamado salvador.
Senti segundos nascerem em milénios.
Assim que me foi concedido direito de cura, corri para o santuário, a que popularmente refiro como "quarto". Minha alma deslizou, sem um pingo de sanidade, para a caixinha preta que tão delicadamente tenho sobre a minha cabeceira Sem uma hesitação, abriu-a de rompante.
Sorri qual demente cadastrada quando segurei suavemente no que se encontrava no seu interior. O meu corpo convulsionava com a antecipação do que iria acontecer..O assombro quente, destruidor, caloroso dançava em volta da minha alma. 
Sorri. 1 carícia.
Sorri. 2 carícias.
Sorri. 3 carícias.
Continuei a derreter sorrisos à medida que carícias metálicas deslizavam. Um curioso líquido escarlate jorrava timidamente desde o topo das minhas coxas até à curvatura do joelho.
E eu sorria. Sorria porque simplesmente não existiam razoes para chorar. 
Sentimentos? O vazio imperava, mesmo quando tais carícias ameaçavam fundar. 
O escarlate reluzia, pecado embalado em loucura...
A dado momento perdi-me..Perdi a essência que faz de mim quem sou e,no seu lugar, apodrece uma sombra que, de dia para dia, de suspiro a lágrima, cresce. 
Enfortece.
Destrói.
Destrói tudo o que poderia, porventura, ser digno de salvação...É uma chama, um fogo que reduz a cinzas cada fragmento que resiste à escuridão eterna. Consome, sublime, os vastos rios límpidos de onde, outrora, nascia meu sangue, substituindo-os por pântanos infecciosos que se afiguram impossíveis de drenar. Até que chega o momento em que o negrume me cega e a luz se torna sinónimo de jamais. Meus sentidos desvanecem  minha pulsação decresce e, no final, só tenho força e lucidez para, num murmúrio implorar para alguém, simplesmente, me salvar.
-C





3 de setembro de 2013





*And, with my tears I made an ocean in my eyes. I say me drowning, breathless, in that painful ocean fed of lies*

Untold #2

Sustenho a respiração, fecho os olhos, desprezo um duvidante passo e, com hesitações de pareceres fatais, encerro o ritual. Pé ante pé, entre tremores e temores, enfrento o inimigo. Pauso uns momentos e baixo o olhar.

Inspira, expira, inspira, expira, acalma tua ânsia que nada irá mudar.

Paraliso.
Cambaleio.
Processo.
Solto um último esgar e algo em mim quebra, em meu já rotineiro estilhaçar.

Desilusão, nada mais és. Agora, não derrames desculpas, que é fraqueza perdoar.

Sim, rendo-me à voz, enquanto lágrima murmura silêncios e ameaça gritar. 

Não, não, não. Não te mostras merecedora de teu chorar. 

Todavia, mandamento rotula-se tardio. 
Lágrima una multiplica-se em mar, de diamante superfície mas negro âmbar.
Vencida, derrotada, esmagada pela verdade que sou forçada a aceitar, venero um duvidante passo e respiro dolorosamente, preparando a batalha que, embora antiga, ainda se está a iniciar. 
-C



6 de junho de 2013

Silence is the answer #4

Acabei o ensino secundário...
Isto devia ser um momento de felicidade não devia?
Pois...devia...

Eu já não aguento mais sorrir e fingir que estou "melhor".
Intervalos a rir
Aulas em que finjo estar atenta
Suportar as pessoas..Tanta gente...Já não dá mais...estar rodeada de pessoas não
Eu tentei, mas eu sou um fracasso...
Tentei mas não consegui, não consigo..
È tão dificil ignorar as vozes...não dá mais...

A escola acabou e com ela acabei eu também.
DESISTO
Ouviram bem?? DESISTO, entrego me às vozes...
Não tenho amigos
Estou SEMPRE, mas SEMPRE sozinha
Não consigo mais...
Ninguém sente a minha falta e não por isso...Eu não interesso a ninguém...
ACABOU

A minha vida social acabou...
Neste momento, eu não consigo..não consigo controlar mais isto o suficiente para estar com pessoas
Eu não passo de uma pedra para as pessoas, por isso decidi apagar me da vida delas

A partir de hoje, não falo + com as minhas "amigas"
Pra que? Elas não querem saber de mim...Eu não quero mais isto..Vê-las viver e eu a morrer...
Prefiro fechar me em casa sozinha, sem falar com ninguém, sem fazer barulho, a fingir que não existo.
Vou deixar de fazer parte da vida delas, é o melhor...
A partir de hoje, apenas saio de casa com os meus pais ao fim de semana e quando obrigada
Só falo com família...Desisto de ter amigos, sinceramente...
Não consigo ter amigos, sinceramente e, a partir deste dia, deixo de me esforçar


16 de maio de 2013

Silence is the answer #3


Eu não consigo...
Juro que não consigo....
Eu sei que TENHO de comer, mas é tão, tão difícil...
Não consigo mais..
Não aguento mais comida...
Tenho que jantar TODOS OS DIAS!!!
TODOS OS DIAS!!!
E TENHO de comer TUDO!!!

Eu..Eu sei que tenho de comer, eu sei disso...mas...não quero engordar...
NÃO POSSO ENGORDAR

Estou cheia de tonturas, não consigo escrever mais...
Patética

30 de abril de 2013

Memoirs #5

A culpa foi minha meu amor.
Foi minha e só minha.
Eu é que não fui suficiente.
Eu é que não te consegui ajudar.
Eu é que não me deixei ser amada.

Sinceramente, digo-te, estou espantada por teres aguentado tanto tempo...
Por ME teres aguentado tanto tempo

Como é que foste capaz??
Como é que conseguiste tocar, beijar, até partilhares a cama com este nojo???
Não entendo, love, juro te que não.



Eu não te julgo.
Longe de mim.
Aliás, eu percebo tão bem, mas tão bem, que nem consegues idealizar, meu amor.

Eu não consegui ser quem precisavas que eu fosse e eu peço te mil misericordiosas desculpas por isso..
Por não ser bonita.
Por ser gorda.
Por não me deixar tocar.
Por rejeitar cada tua carícia.

A culpa é minha, não interessa que me dizes.
Eu é que te forcei a faze-lo...
Afinal, se eu fosse diferente, não o terias feito.
Terias resistido por mim
Terias lutado por mim



Mas se já nem eu, eu própria, eu mesma, tenho a decência de resistir e lutar pela minha própria alma, porque o farias tu?




Vamos ser francos, ambos sabíamos desde o início que tudo iria acabar.
Afinal, tu és tu e eu...eu não passo de mim...
Tudo isto já estava condenado ao abismo, desde aquele beijo ao luar da capela.
Desde aquele pender de mãos.
Desde aquele meu riso.
Desde aquele teu caloroso olhar.

**21 de Abril de 2011**


Podes ter a certeza que não esquecerei, meu amor.
Tudo o que aconteceu pode ter sido uma doce ilusão, mas, naquele momento, naquele dia, naquela promessa, eu acreditei, sabias?
Acreditei no amor.
Acreditei na felicidade.
Acreditei na esperança.
Acreditei em mim.


Foste o meu tudo e agora resumo-me a nada.
Respiravas por mim.
Teu coração batia em vez do meu.
Teu sorriso brilhava em tentativas de forçar o meu.


Agora...

Quero respirar mas meus pulmões não se contraem.
Meu coração cessou seu vital compasso.
Meu sorriso escurece em trevas.

Entreguei te minha vida, minha alma, meu ser.
Entreguei me a ti e não, love, não me quero de volta.
Não mais.
Eu sou tua.
Sempre.
Eterna.



Pensando melhor, não.
Não mereces carregar com minha essência nefasta em teu coração.
Tu não és merecedor de tal castigo; eu não me aceito de volta.

Bem, pega em minha vida, 
em minha alma, 
em meu ser,
e estilhaça-os de uma só vez.

Se realmente me amaste algum dia, reduz me a cinzas e pó.

(Amo-te love, pois o que aconteceu não foi tua traição.)


17 de abril de 2013


**EU PRECISO DA MENTIRA QUE ÉS TU**
Imploro te.
Mentira ou verdade
Ilusao ou realidade
Eu preciso de saber que ainda há pelo que respirar

3 de abril de 2013

Naked Confessions #4

Eu quero desistir...
Eu realmente quero desistir...
E não é por ser mais fácil.
Não é por ser menos doloroso.
Não é por ser o caminho mais rápido.
Eu quero desistir porque já não consigo encontrar motivos para não o fazer, tão simples quanto isso.
Não tenho nada mais que me faça querer ver mais um dia.

Meses dissiparam-se em nada; dias em ilusões; horas em denso nevoeiro.

Eu já não tenho mais forças.
Não mais.
Luto contra estas vozes há anos e elas foram ficando cada vez mais fortes, mais possantes, mais obscuras.
Tento ignorar as suas tentações há demasiado tempo.
E tento, tento e tento e já não sei porque o faço.
Resisti durante anos.
Lutei durante anos.
Sorri durante anos.
Agora pergunto-me: "Pra que??"
Nada mudou.
Nada melhorou...Aliás, tudo piorou substancialmente

Peço imensas desculpas a todos os meus amigos por isto...Eu sei que vocês mereciam mais de mim...Mereciam melhor. Eu devia ter sido uma boa amiga...Uma amiga que pudesse divertir-se como se não houvesse amanhã, que fosse convosco à praia, que organizasse jantares de aniversário..Vocês mereciam tudo isso e eu...eu não fui capaz de o ser...Não fui uma amiga para nenhum de vocês...É só que..eu não consegui..desculpem, mas eu não consegui...

Desculpem por ser feia.
Desculpem por ser gorda.
Desculpem por ser horrível.
Desculpem por ser uma puta egoísta.
Desculpem por nunca poder sair convosco.
Desculpem por recusar saídas.
Desculpem por eu ter uma cicatriz que enjoa só de olhar.
Desculpem por eu não ser perfeita.
Desculpem por eu ser um autentico nojo.
Desculpem por não saber o que fazer.
Desculpem por querer desistir.
Desculpem por abraçar os gritos da minha mente em vez dos vossos.
Enfim, desculpem por eu existir.

Desisto.
Eu VOU ser perfeita e, se para isso tiver de morrer, tudo bem.
I'm yours*

26 de fevereiro de 2013

Cold Blood #2

Sozinha.
Mais uma vez.
Sozinha
porque todos os que prometeram ficar partiram;
porque cada réstia de amizade se desfaleceu;
porque cada sentimento genuíno não era mais que mera ilusão.
Sozinha 
porque amigo é luxo que a minha alma não assiste;
porque construo muralhas em vez de edificar pontes;
porque penso em como não pensar seria impensável.

Sozinha, porque de cada vez que me deixo ler, simplesmente fecham o livro.


21 de fevereiro de 2013




Quando 650 kcal por dia começa a ser demais -."

Hurt #2


"- Se quiseres, podes convidar uma amiga para passar o dia contigo, para não ficares sozinha."
Sim, claro, mãe...Como se eu tivesse alguma "amiga" disposta a desperdiçar um dia com este nojo...



10 de fevereiro de 2013

Cold Blood #1

Acabou.

Não quero comer.
Não quero falar.
Não quero sair da cama.
Não quero encarar o mundo.
Não quero viver.


Desisto.





1 de fevereiro de 2013

Lost*


A chuva cai e eu afogo-me, tal humana sereia em seus oceanos sufocantes.
Cada gota que em terra se dissolve é pecado meu, oferecido e arrancado de minha quebrada alma.
A chuva cai e eu afogo-me.
Afogo-me em mares, em loucuras, em palavras, em dores, em promessas quebradas, em sonhos platónicos, em sentimentos perdidos, em toques falhados.
Afogo-me em sangue.
Afogo-me em mim.

24 de janeiro de 2013

Memoirs #3

Já não consigo mais lutar contra toda esta prudência hiperbólica e amante de sinestesia.
Simplesmente não consigo mais...
Tudo o que eu quero é voltar a sentir...
Apenas sentir..nada mais...
Quero ansiar pelo teu beijo a cada segundo que respira;
Desejar o teu toque suave e carente de firmeza;
Abraçar tua paixão e deixar me guiar por ela, loucamente.

Se tudo isto é errado, passa-me ao lado.

Este vazio, esta dor, este tormento, esta amargura, esta angústia, este NADA que me consome tem de evaporar...
...A qualquer custo...

-Tens a certeza?
Encontro-me no seu colo, sentindo o bater de seu coração perto do meu. Os seus braços rodeiam-me a cintura, onde incontáveis facas me perfuram sadicamente. Os seus suspiros beijam os meus, inocentemente.
A cada instante que passa, encosto mais o meu corpo ao seu peito quente.
Tenho que afastar o frio que me gela a alma..TENHO DE O FAZER...
-Sim, tenho a certeza...
Quero algo sentir, agora.



21 de janeiro de 2013

Memoirs #2


- Estás a pensar naquilo outra vez, não estás?
Raios, como é que ele sabia?
-Não..Não estou a pensar nisso...
-És uma péssima mentirosa, sabias?
Baixo a cabeça, desvio o olhar, gelo. Gesto automático.
Segundos depois, sinto a pele quente dele a acariciar a minha, lentamente. Recuo no mesmo instante; gesto automático.
-Não me toques, por favor...
Suspiro meu, suspiro seu, separados por momentos de anárquica sincronia. Apesar de meu pedido desesperante, ele embala-me nos seus braços, sem sequer uma palavra trocar. O ar começa a escassear, encolho me involuntariamente e respirar torna-se algo difícil.
Ele apercebe-se da mudança do meu estado e apenas sussura:"vais ficar bem.. ".
NÃO!! Nada vai ficar bem!!!
Por fim, encontro minha voz e profiro suavemente:
-Apenas quero morrer..Eu não passo de um erro...
Sinto-o tremer (seria ele ou eu?)
-Tu não és um erro..
Como é que ele se atreve a dizer uma coisa dessas?? A mentir me desta forma??
-Sou um erro, SIM!!! Eu devia ter morrido naquela sala de operações há 17anos atrás..Era suposto eu não ter sobrevivido..Toda a minha vida é um engano crasso que tem de ser corrigido.
-Tu sobreviveste por alguma razão, ok? A tua vida tem um significado...acredita em mim.
Mas ele NÃO percebe??
-Eu não tenho mais nada.Não tenho razões para existir...Eu já não tenho nada; perdi tudo. Eu apenas estou farta disto; tou farta de me sentir assim..Eu só quero que isto, seja lá o que for, acabe.
De repente, ele obriga me a olhá-lo nos olhos, e eu derreto uma sublime lágrima, derrotada.
-Suicídio não é solução..Tu nunca desististe de nada, pf não o faças agora..Achas que isso é o melhor a fazer? Desistir?
Outra lágrima se solta, cortando as palavras que me atrevo a murmurar..
-Sabes, há uns dias contaram-me que uma pessoa se suicidou, e sabes qual foi a 1ªcoisa em que pensei? Quem me dera ter a coragem dele...
Que patética que sou, cristo..Já nem consigo esconder o que penso...
-Pf, não penses nisso, ok? Isso não vai acontecer..Nem sequer penses em tentar fazê-lo, ouviste?? Tu não és assim tão cobarde e sabes muito bem disso. Sabes muito bem que não és cobarde o suficiente para isso..
Tremo mais uma vez e fecho os olhos, não suportando mais a luz do dia. Sinto me muito melhor na escuridão que agora observo; é-me muito mais familiar. E, enquanto ele continua a tocar nesta coisa nojenta que sou, eu apenas penso. Não faço mais que pensar em quão belo seria um dia simplesmente não acordar...

13 de janeiro de 2013

(Happy) Endings #1

Quando a escuridão nos assombra, resistir ao seu poder é algo impossivelmente sepulcral.
Com a chegada das primeiras sombras, um ritual de defesa se inicia...
A luz que de nossa alma irradia, forma escudo em sua volta, não deixando a obscuridade penetrar. Negro opõem-se a pureza em batalhas ténues, harmoniosas e anárquicas que, lentamente, se transformam de raras a regulares.
Dois sorrisos se desvanecem num só, destroçado, em pó.

Todavia, a ampulheta não se faz intimidada, recusando cessar sua desesperante contagem.
Grãos de areia escorregam receosamente, gritando gritos silenciosos que nem o vidro se dignam quebrar.
Segundos voam e a velocidade aumenta, a um ritmo que ninguém ousa paralisar.


Respirar torna-se doloroso, oxigénio dilui-se em droga sufocante, dias amanhecem apenas para a
noite brilhar.
Até que alguém sussura: "Sinto que estás quase no final..."
Mas no final de quê?
Final da ditadura?
Final da dor?
Final do fingimento atroz e cruel?
Não..
Fim de algo muito mais indistinto, muito mais torturante..
Final de vida, renascimento; final de sobrevivência, harmonioso paraíso de além.
 
"Sinto que estás quase no final.."
 
Contudo, depois de períodos incontáveis a morrer interiormente de ódios delirantes, fim não é sinónimo de inferno nem de lágrimas evitadas..
Fim é vazio caloroso, é sangue a arder, é assédio imoral..
Tudo tem de final ter, afinal.

7 de janeiro de 2013

Trying x)



Eu só quero pedir desculpa..
Desculpa por existir, desculpa por ser um desperdício de espaço, desculpa por serem obrigados a olhar para mim..
Apenas desculpem..

Eu estou a esforçar me!
Juro que estou a fazer tudo ao meu alcance para que estejam comigo o menos possível.
Não quero que tenham de me encarar mais tempo do que o estritamente necessário...
Afinal, eu sei que era tudo melhor se eu nao ali estivesse...

2 de janeiro de 2013

naked confessions #1

Tudo começou há 3 anos..
Quando eu tinha 14 anos, eu tinha excesso de peso..Com 1.65 pesava 75kg..
Em criança, eu era magríssima, tendo, inclusivé, o peso abaixo do recomendável.
Eu era alta, magra e adorava-me..
No entanto, com a puberdade, engordei e não consegui controlar esse aumento de peso.
A minha família reparou que eu comia mais e que estava a engordar, mas nada fez..
Nem sequer me chamou à atenção..E eu fui engordando até chegar aos 75 kg..
As pessoas começaram a tratar me de modo diferente..Deixaram de ser simpáticas comigo e passaram a falar sobre mim atrás das minhas costas..Comecei a ser a "cheinha", a "gordinha" em todo o lado..
Mas, no inicio, eu nao notei essa diferença no tratamento, se bem que, lá no fundo, eu acho que notei, mas preferi ignorar..
Até que isso se tornou insuportável quando a minha própria família começou a fazer comentários cínícos sobre o meu peso..
O meu pai chamava-me gorda, inútil, baleia..E eu acreditava..
Eu acreditava porque eu sabia que era isso que eu era..Que nao passava de uma baleia, de um desperdício de espaço, que era horrível..
As "bocas" do meu pai pioraram com o tempo e atingiram o seu auge quando o verão chegou..
Eu ia à praia e toda a gente olhava para mim..Toda a gente cochichava..até ele..
"Tira a camisola, vá lá..Já toda a gente reparou que és gorda"
E eu encolhia me de vergonha, de nojo, de cobardia..
Nesse verão, eu comecei a odiar me..
A cada dia que passava eu odiava o meu corpo cada vez mais..
Quando as aulas começaram, em setembro, eu resolvi mudar..
Eu fartei me dos comentários cínicos, dos insultos do meu pai, do olhar desdenhoso de toda a gente, e decidi que aquilo não ia continuar assim..
Mudei a minha forma de vestir, deixei crescer o cabelo, passei a preocupar me mais com a minha imagem..
Comecei a minha descida ao inferno..
Em janeiro já tinha perdido 4 kg..
No início, eu disse a mim própria que aquilo era temporário, que mal atingisse o meu peso ideal parava com aquilo..
Reduzi a comida que ingeria por refeição, passei a beber apenas um café ao peq.almoço, lanchava um iogurte liquido e um pacote de bolachas..
Pequenas mudanças, nada de significativo..Afinal, eu continuava a comer, nao é?
Quando vi os digitos da balança a descer, fiquei mais entusiasmada..mais empenhada..mais motivada..e decidi diminuir mais um pouco as calorias..
Afinal, eu estava a fazer bem, nao era? Continuava a comer na mesma, só que em quantidades mais pequenas e alimentos mais saudáveis..
No verão, em junho,já tinha perdido 8kg..
Mas, estranhamente, nao me sentia melhor comigo propria..
As pessoas continuavam a comentar..O meu pai continuava a insultar me..
Mas decidi parar..Já tinha emagrecido, por isso já era um vitória..Passei a comer normalmente outra vez..
Nesse verão, engordei 2 kg e voltei ao controlo alimentar de antes.
 
Dois anos passaram.....

Dois anos de altos e baixos, de kilos a mais e kilos a menos..O ponteiro da minha balança passou a ser como uma montanha russa.Quando eu emagrecia, deixava a dieta, por isso, tornava a engordar..E, quando engordava, voltava ao controlo alimentar..Era um ciclo vicioso..
Nestes dois anos, o meu peso foi muito instavel, mas eu NUNCA voltei a ter excesso de peso..
Nestes dois anos, o peso máximo que atingi foram os tais 67kg..Nunca mais passei dessa fasquia..
Mas, mesmo assim, eu sentia me mal..E, o ano passado, no verao de 2012, fartei me..
Fartei me de ser gorda, fartei me dos comentários, fartei me dos insultos do meu pai, fartei me de me sentir nojenta..Entao, decidi emagrecer, prometendo a mim propria que, quando chegasse aos 60kg, parava..
Mas nao parei..
Eu nao voltei ao mesmo..Não voltei á dieta que segui há 3anos atrás e copiei nos dois anos seguintes..Eu segui outra..Inventei outro controlo alimentar, muito mais restritivo que o anterior..
Cortei radicalmente na comida..
Durante todo o verão, o meu almoço foi apenas um chá e 4bolachas, o lanche uma maçã e o jantar apenas a carne ou o peixe..NUNCA os acompanhamentos.Se comesse um jantar "normal", com carne/peixe e o acompanhamento, nao almoçava..

E assim continuo..tornei me obececada..
Obececada pela perfeição, pelo meu peso, consumida pelo ódio que tenho a mim mesma..
Neste momento, estou com 58.5kg...Já passei a minha meta inicial e nao parei..Já nao consigo..Esta obsessao já me controla demasiado..
Já nao consigo comer sem me sentir culpada, o mero cheiro de doces enjoa-me e faz me vomitar, invento desculpas para nao comer, evito comer em publico...
No entanto, apesar de ter perdido cerca de 16kg, eu nao me sinto melhor..Eu ainda me odeio, ainda nao vou à praia, ainda nao me vejo ao espelho na escola, ainda nao suporto que olhem para mim..
Apesar de tudo, nada mudou..As pessoas continuam a comentar, o meu pai continua a insultar me..
É por isso que, apesar de os meus amigos me dizerem que estou bem, que nao sou gorda, que sou bonita, que estou magra o suficiente, que nao preciso de mudar..
eu nao acredito..Quero acreditar, juro que quero, mas nao consigo..
Sao demasiados anos a odiar me..
Conto calorias há 3anos..Controlo TUDO o que como há 3anos..Evito espelhos há 3anos..Evito fotos há 3anos..Registo num caderno tudo o que como há 3anos..
Porque, apesar de tudo, eu odeio me..Odeio me com todas as minhas forças..

E, nao tenho mais nada..Não sou nada, nao interesso nada, nao valho nada..Por isso entreguei me e deixei me controlar por isto.

Nao, eu nao tenho peso abaixo do recomendável..Afinal, eu sou demasiado gorda para ter um disturbio alimentar, nao é?


Eu já desisti..Eu já me deixei controlar por esta obsessão..Por favor, não o faças..Por favor..Não quero que acabes como eu, prisioneira das calorias..Não quero que sintas a dor que eu sinto..O nojo que eu sinto..
Please, just don´t..*