24 de janeiro de 2013

Memoirs #3

Já não consigo mais lutar contra toda esta prudência hiperbólica e amante de sinestesia.
Simplesmente não consigo mais...
Tudo o que eu quero é voltar a sentir...
Apenas sentir..nada mais...
Quero ansiar pelo teu beijo a cada segundo que respira;
Desejar o teu toque suave e carente de firmeza;
Abraçar tua paixão e deixar me guiar por ela, loucamente.

Se tudo isto é errado, passa-me ao lado.

Este vazio, esta dor, este tormento, esta amargura, esta angústia, este NADA que me consome tem de evaporar...
...A qualquer custo...

-Tens a certeza?
Encontro-me no seu colo, sentindo o bater de seu coração perto do meu. Os seus braços rodeiam-me a cintura, onde incontáveis facas me perfuram sadicamente. Os seus suspiros beijam os meus, inocentemente.
A cada instante que passa, encosto mais o meu corpo ao seu peito quente.
Tenho que afastar o frio que me gela a alma..TENHO DE O FAZER...
-Sim, tenho a certeza...
Quero algo sentir, agora.



21 de janeiro de 2013

Memoirs #2


- Estás a pensar naquilo outra vez, não estás?
Raios, como é que ele sabia?
-Não..Não estou a pensar nisso...
-És uma péssima mentirosa, sabias?
Baixo a cabeça, desvio o olhar, gelo. Gesto automático.
Segundos depois, sinto a pele quente dele a acariciar a minha, lentamente. Recuo no mesmo instante; gesto automático.
-Não me toques, por favor...
Suspiro meu, suspiro seu, separados por momentos de anárquica sincronia. Apesar de meu pedido desesperante, ele embala-me nos seus braços, sem sequer uma palavra trocar. O ar começa a escassear, encolho me involuntariamente e respirar torna-se algo difícil.
Ele apercebe-se da mudança do meu estado e apenas sussura:"vais ficar bem.. ".
NÃO!! Nada vai ficar bem!!!
Por fim, encontro minha voz e profiro suavemente:
-Apenas quero morrer..Eu não passo de um erro...
Sinto-o tremer (seria ele ou eu?)
-Tu não és um erro..
Como é que ele se atreve a dizer uma coisa dessas?? A mentir me desta forma??
-Sou um erro, SIM!!! Eu devia ter morrido naquela sala de operações há 17anos atrás..Era suposto eu não ter sobrevivido..Toda a minha vida é um engano crasso que tem de ser corrigido.
-Tu sobreviveste por alguma razão, ok? A tua vida tem um significado...acredita em mim.
Mas ele NÃO percebe??
-Eu não tenho mais nada.Não tenho razões para existir...Eu já não tenho nada; perdi tudo. Eu apenas estou farta disto; tou farta de me sentir assim..Eu só quero que isto, seja lá o que for, acabe.
De repente, ele obriga me a olhá-lo nos olhos, e eu derreto uma sublime lágrima, derrotada.
-Suicídio não é solução..Tu nunca desististe de nada, pf não o faças agora..Achas que isso é o melhor a fazer? Desistir?
Outra lágrima se solta, cortando as palavras que me atrevo a murmurar..
-Sabes, há uns dias contaram-me que uma pessoa se suicidou, e sabes qual foi a 1ªcoisa em que pensei? Quem me dera ter a coragem dele...
Que patética que sou, cristo..Já nem consigo esconder o que penso...
-Pf, não penses nisso, ok? Isso não vai acontecer..Nem sequer penses em tentar fazê-lo, ouviste?? Tu não és assim tão cobarde e sabes muito bem disso. Sabes muito bem que não és cobarde o suficiente para isso..
Tremo mais uma vez e fecho os olhos, não suportando mais a luz do dia. Sinto me muito melhor na escuridão que agora observo; é-me muito mais familiar. E, enquanto ele continua a tocar nesta coisa nojenta que sou, eu apenas penso. Não faço mais que pensar em quão belo seria um dia simplesmente não acordar...

13 de janeiro de 2013

(Happy) Endings #1

Quando a escuridão nos assombra, resistir ao seu poder é algo impossivelmente sepulcral.
Com a chegada das primeiras sombras, um ritual de defesa se inicia...
A luz que de nossa alma irradia, forma escudo em sua volta, não deixando a obscuridade penetrar. Negro opõem-se a pureza em batalhas ténues, harmoniosas e anárquicas que, lentamente, se transformam de raras a regulares.
Dois sorrisos se desvanecem num só, destroçado, em pó.

Todavia, a ampulheta não se faz intimidada, recusando cessar sua desesperante contagem.
Grãos de areia escorregam receosamente, gritando gritos silenciosos que nem o vidro se dignam quebrar.
Segundos voam e a velocidade aumenta, a um ritmo que ninguém ousa paralisar.


Respirar torna-se doloroso, oxigénio dilui-se em droga sufocante, dias amanhecem apenas para a
noite brilhar.
Até que alguém sussura: "Sinto que estás quase no final..."
Mas no final de quê?
Final da ditadura?
Final da dor?
Final do fingimento atroz e cruel?
Não..
Fim de algo muito mais indistinto, muito mais torturante..
Final de vida, renascimento; final de sobrevivência, harmonioso paraíso de além.
 
"Sinto que estás quase no final.."
 
Contudo, depois de períodos incontáveis a morrer interiormente de ódios delirantes, fim não é sinónimo de inferno nem de lágrimas evitadas..
Fim é vazio caloroso, é sangue a arder, é assédio imoral..
Tudo tem de final ter, afinal.

7 de janeiro de 2013

Trying x)



Eu só quero pedir desculpa..
Desculpa por existir, desculpa por ser um desperdício de espaço, desculpa por serem obrigados a olhar para mim..
Apenas desculpem..

Eu estou a esforçar me!
Juro que estou a fazer tudo ao meu alcance para que estejam comigo o menos possível.
Não quero que tenham de me encarar mais tempo do que o estritamente necessário...
Afinal, eu sei que era tudo melhor se eu nao ali estivesse...

2 de janeiro de 2013

naked confessions #1

Tudo começou há 3 anos..
Quando eu tinha 14 anos, eu tinha excesso de peso..Com 1.65 pesava 75kg..
Em criança, eu era magríssima, tendo, inclusivé, o peso abaixo do recomendável.
Eu era alta, magra e adorava-me..
No entanto, com a puberdade, engordei e não consegui controlar esse aumento de peso.
A minha família reparou que eu comia mais e que estava a engordar, mas nada fez..
Nem sequer me chamou à atenção..E eu fui engordando até chegar aos 75 kg..
As pessoas começaram a tratar me de modo diferente..Deixaram de ser simpáticas comigo e passaram a falar sobre mim atrás das minhas costas..Comecei a ser a "cheinha", a "gordinha" em todo o lado..
Mas, no inicio, eu nao notei essa diferença no tratamento, se bem que, lá no fundo, eu acho que notei, mas preferi ignorar..
Até que isso se tornou insuportável quando a minha própria família começou a fazer comentários cínícos sobre o meu peso..
O meu pai chamava-me gorda, inútil, baleia..E eu acreditava..
Eu acreditava porque eu sabia que era isso que eu era..Que nao passava de uma baleia, de um desperdício de espaço, que era horrível..
As "bocas" do meu pai pioraram com o tempo e atingiram o seu auge quando o verão chegou..
Eu ia à praia e toda a gente olhava para mim..Toda a gente cochichava..até ele..
"Tira a camisola, vá lá..Já toda a gente reparou que és gorda"
E eu encolhia me de vergonha, de nojo, de cobardia..
Nesse verão, eu comecei a odiar me..
A cada dia que passava eu odiava o meu corpo cada vez mais..
Quando as aulas começaram, em setembro, eu resolvi mudar..
Eu fartei me dos comentários cínicos, dos insultos do meu pai, do olhar desdenhoso de toda a gente, e decidi que aquilo não ia continuar assim..
Mudei a minha forma de vestir, deixei crescer o cabelo, passei a preocupar me mais com a minha imagem..
Comecei a minha descida ao inferno..
Em janeiro já tinha perdido 4 kg..
No início, eu disse a mim própria que aquilo era temporário, que mal atingisse o meu peso ideal parava com aquilo..
Reduzi a comida que ingeria por refeição, passei a beber apenas um café ao peq.almoço, lanchava um iogurte liquido e um pacote de bolachas..
Pequenas mudanças, nada de significativo..Afinal, eu continuava a comer, nao é?
Quando vi os digitos da balança a descer, fiquei mais entusiasmada..mais empenhada..mais motivada..e decidi diminuir mais um pouco as calorias..
Afinal, eu estava a fazer bem, nao era? Continuava a comer na mesma, só que em quantidades mais pequenas e alimentos mais saudáveis..
No verão, em junho,já tinha perdido 8kg..
Mas, estranhamente, nao me sentia melhor comigo propria..
As pessoas continuavam a comentar..O meu pai continuava a insultar me..
Mas decidi parar..Já tinha emagrecido, por isso já era um vitória..Passei a comer normalmente outra vez..
Nesse verão, engordei 2 kg e voltei ao controlo alimentar de antes.
 
Dois anos passaram.....

Dois anos de altos e baixos, de kilos a mais e kilos a menos..O ponteiro da minha balança passou a ser como uma montanha russa.Quando eu emagrecia, deixava a dieta, por isso, tornava a engordar..E, quando engordava, voltava ao controlo alimentar..Era um ciclo vicioso..
Nestes dois anos, o meu peso foi muito instavel, mas eu NUNCA voltei a ter excesso de peso..
Nestes dois anos, o peso máximo que atingi foram os tais 67kg..Nunca mais passei dessa fasquia..
Mas, mesmo assim, eu sentia me mal..E, o ano passado, no verao de 2012, fartei me..
Fartei me de ser gorda, fartei me dos comentários, fartei me dos insultos do meu pai, fartei me de me sentir nojenta..Entao, decidi emagrecer, prometendo a mim propria que, quando chegasse aos 60kg, parava..
Mas nao parei..
Eu nao voltei ao mesmo..Não voltei á dieta que segui há 3anos atrás e copiei nos dois anos seguintes..Eu segui outra..Inventei outro controlo alimentar, muito mais restritivo que o anterior..
Cortei radicalmente na comida..
Durante todo o verão, o meu almoço foi apenas um chá e 4bolachas, o lanche uma maçã e o jantar apenas a carne ou o peixe..NUNCA os acompanhamentos.Se comesse um jantar "normal", com carne/peixe e o acompanhamento, nao almoçava..

E assim continuo..tornei me obececada..
Obececada pela perfeição, pelo meu peso, consumida pelo ódio que tenho a mim mesma..
Neste momento, estou com 58.5kg...Já passei a minha meta inicial e nao parei..Já nao consigo..Esta obsessao já me controla demasiado..
Já nao consigo comer sem me sentir culpada, o mero cheiro de doces enjoa-me e faz me vomitar, invento desculpas para nao comer, evito comer em publico...
No entanto, apesar de ter perdido cerca de 16kg, eu nao me sinto melhor..Eu ainda me odeio, ainda nao vou à praia, ainda nao me vejo ao espelho na escola, ainda nao suporto que olhem para mim..
Apesar de tudo, nada mudou..As pessoas continuam a comentar, o meu pai continua a insultar me..
É por isso que, apesar de os meus amigos me dizerem que estou bem, que nao sou gorda, que sou bonita, que estou magra o suficiente, que nao preciso de mudar..
eu nao acredito..Quero acreditar, juro que quero, mas nao consigo..
Sao demasiados anos a odiar me..
Conto calorias há 3anos..Controlo TUDO o que como há 3anos..Evito espelhos há 3anos..Evito fotos há 3anos..Registo num caderno tudo o que como há 3anos..
Porque, apesar de tudo, eu odeio me..Odeio me com todas as minhas forças..

E, nao tenho mais nada..Não sou nada, nao interesso nada, nao valho nada..Por isso entreguei me e deixei me controlar por isto.

Nao, eu nao tenho peso abaixo do recomendável..Afinal, eu sou demasiado gorda para ter um disturbio alimentar, nao é?


Eu já desisti..Eu já me deixei controlar por esta obsessão..Por favor, não o faças..Por favor..Não quero que acabes como eu, prisioneira das calorias..Não quero que sintas a dor que eu sinto..O nojo que eu sinto..
Please, just don´t..*