21 de janeiro de 2013

Memoirs #2


- Estás a pensar naquilo outra vez, não estás?
Raios, como é que ele sabia?
-Não..Não estou a pensar nisso...
-És uma péssima mentirosa, sabias?
Baixo a cabeça, desvio o olhar, gelo. Gesto automático.
Segundos depois, sinto a pele quente dele a acariciar a minha, lentamente. Recuo no mesmo instante; gesto automático.
-Não me toques, por favor...
Suspiro meu, suspiro seu, separados por momentos de anárquica sincronia. Apesar de meu pedido desesperante, ele embala-me nos seus braços, sem sequer uma palavra trocar. O ar começa a escassear, encolho me involuntariamente e respirar torna-se algo difícil.
Ele apercebe-se da mudança do meu estado e apenas sussura:"vais ficar bem.. ".
NÃO!! Nada vai ficar bem!!!
Por fim, encontro minha voz e profiro suavemente:
-Apenas quero morrer..Eu não passo de um erro...
Sinto-o tremer (seria ele ou eu?)
-Tu não és um erro..
Como é que ele se atreve a dizer uma coisa dessas?? A mentir me desta forma??
-Sou um erro, SIM!!! Eu devia ter morrido naquela sala de operações há 17anos atrás..Era suposto eu não ter sobrevivido..Toda a minha vida é um engano crasso que tem de ser corrigido.
-Tu sobreviveste por alguma razão, ok? A tua vida tem um significado...acredita em mim.
Mas ele NÃO percebe??
-Eu não tenho mais nada.Não tenho razões para existir...Eu já não tenho nada; perdi tudo. Eu apenas estou farta disto; tou farta de me sentir assim..Eu só quero que isto, seja lá o que for, acabe.
De repente, ele obriga me a olhá-lo nos olhos, e eu derreto uma sublime lágrima, derrotada.
-Suicídio não é solução..Tu nunca desististe de nada, pf não o faças agora..Achas que isso é o melhor a fazer? Desistir?
Outra lágrima se solta, cortando as palavras que me atrevo a murmurar..
-Sabes, há uns dias contaram-me que uma pessoa se suicidou, e sabes qual foi a 1ªcoisa em que pensei? Quem me dera ter a coragem dele...
Que patética que sou, cristo..Já nem consigo esconder o que penso...
-Pf, não penses nisso, ok? Isso não vai acontecer..Nem sequer penses em tentar fazê-lo, ouviste?? Tu não és assim tão cobarde e sabes muito bem disso. Sabes muito bem que não és cobarde o suficiente para isso..
Tremo mais uma vez e fecho os olhos, não suportando mais a luz do dia. Sinto me muito melhor na escuridão que agora observo; é-me muito mais familiar. E, enquanto ele continua a tocar nesta coisa nojenta que sou, eu apenas penso. Não faço mais que pensar em quão belo seria um dia simplesmente não acordar...