20 de setembro de 2012

Where´s your daddy? #2

Uma lágrima escorre, lentamente, pela minha face.
Cristalina, brilhante, pura.
Vai descendo pela minha bochecha até se evaporar no canto da minha boca. Apenas um minúsculo exemplar espelha o meu estado de espírito. Para quem olha sem realmente ver, pareço serena, melancólica. Não obstante, a minha alma debate-se, afogada pela angústia que lhe trespassa o coração.
Tudo em mim treme, não de frio, mas de mágoa.
Mágoa minha que me amordaça, impedindo-me de ser livre. Prende-me nas teias delicadas da tristeza, que a opressão silencia.
A lágrima, solitária representação de meu tormento, é a única ousadia que me é permitida. E, se outra se dignar nascer, meus olhos piscarão instantaneamente, numa tentativa de cessar a corrente que luta em se formar.
Claro que o sentido vence a investida.
As lágrimas, finas, frágeis, nada representam quando comparadas ao poder inebriante da amargura.
 A sua insignificância e, quiçá, mesquinhez, é algo humilhante para a magnificiente aparência.
Assim sendo, o luto lacrimal é ameaçado e este evapora-se, cautelosamente, cobardemente, subjugando-se a uma fraqueza mais dolorosa que a própria dor.
Modéstia é cobardia.
A modéstia é apenas a desculpa que um cobarde arranja quando não quer desagradar :b

19 de setembro de 2012

Where´s your daddy? #1

Desprezo.
A palavra mágica para tudo, segundo alguns especialistas. Basta carregar num botão e todos os problemas, todas as pessoas, toda a restante vida deixa de existir.
Que simplicidade...
Se não nos interessa, é-nos indiferente; se não nos afeta, não desejamos saber.
O universo pode explodir em mil brilhantes estilhaços que, se estivermos salvaguardados pelo aprazível e glorioso narcisismo, nem sequer pestanejamos. Pelo contrário; ficamos agradados por ter sido o universo e não nós.
Não vale a pena negar.
Todos pensamos assim pelo menos uma vez na nossa efémera existência. É um processo que se tornou mecânico, natural e até rotineiro.
No entanto, se uma brecha se abre no nosso imaculado exíguo mundinho, é O desastre. A desorientação é total. Deixamos de saber como agir, como pensar e até como tratar a Humanidade. Tudo desaba perante o Apocalipse.
 Subitamente, um poder divino e superior intervém e volta a colocar anarquia em dinastia.
Passamos o resto do tempo a viver em silêncio, a sorrir para uma tela que não é prioridade admirar. Mas, qual é, afinal, a incontestável razão que nos submete desta forma? Eu, sei que ainda não a encontrei. Contudo, não vou desistir de a enfrentar e exigir que me ilumine sobre o derradeiro propósito que justifica o desprezo humano.
Como poderá haver tão poderoso bem maior se tudo na vida tem um fim, inclusivé o próprio conceito de existir?

17 de setembro de 2012

Hopeless #1

Não sei.
Nada sei.
Não sei onde estou, não sei para onde vou.
No meio desta escuridão,não sinto.
Nada sinto.
Mais aterrador, não me sinto.
O negro existente envolve-me como uma capa. Sufoca-me. Mas já não me incomodo.
Não mais.
É como se tudo se resumisse a isto: desespero. O ar falta, a alma sussura palavras de socorro. Contudo, ninguém escuta a sua fina voz.
Apenas eu.
Ninguém mais.
Desfaleço contra o espaço vazio onde me encontro. Lentamente, começo a ver um fio de luz, que brilha intensamente. Espiritualmente. A minha alma tende a segui-lo, a adorá-lo. Mas o meu corpo não obedece, não responde, não reage. E assim, apática e a sangrar por dentro, a minha esperança luminosa desvanece-se.
Não sei.
Nada sei.
Nunca mais.

16 de setembro de 2012

Slow #1

Todos os dias me sinto chorar.
(Sem exceção)
Todos os dias tenho de me esforçar por parecer normal.
(Sem parar)
Todos os dias sinto os meus lábios moverem-se num sorriso tão falso quanto a jura de um mentiroso.
(Sem hesitação)
Todos os dias enterro a minha vontade de voar.
(Sem cessar)
Todos os dias desejo que a noite chegue.
(Sem interrupção)
Todos os dias me encubro de mentiras para camuflar a minha verdade.
(Sem descansar)
Todos os dias luto contra o sentimento de mudar.
(Sem opção)

Todos os dias espero que os dias deixem de contar.

12 de setembro de 2012

Promises #1

Ninguém me obriga a fazer o que eu não quero. Seja quem for, seja o que for.
Não me interessa minimamente se os outros concordam ou não.
Simplesmente passa-me ao lado.
 Tudo porque eu fiz uma promessa a mim mesma há muito tempo: que nunca deixaria nada nem ninguém impedir-me de ser livre. A qualquer custo, a qualquer preço.
Mas existem também promessas que não consegui cumprir, pois são mais fortes do que eu. Melhor, são o meu inferno pessoal.
 
São os pensamentos que me fazem ficar acordada, são o meu maior segredo, o meu maior medo, o meu maior sonho, enfim...
São a minha dor.

Uma dor tão ingrata e tão diabólica que me faz esconder, mentir, envergonhar-me, arrepender-me, odiar-me...
Isto não faz sentido nenhum. Nunca fez. Nunca fará.
Mas é precisamente isso que o torna real para mim. É isso que me consome e que faz de mim o tipo de pessoa que nasci para condenar. Eu não escolhi ser assim, não pedi para sentir desta maneira.
Eu não assinei o tratado que me deu vida.